segunda-feira, 6 de julho de 2015

Dilma morde a isca da interrupção do mandato

Do Blog do Josias
O retrato de um governo é o que sobra para ser desenterrado muitos anos depois. No futuro, quando a arqueologia política fizer suas escavações à procura de documentos e objetos que ajudem a entender a decomposição da Era petista, encontrará em meio aos destroços desta segunda-feira, dia 6 de julho do ano da graça de 2015, um quadro revelador.
O quadro mostra a caída em si de Dilma Rousseff, o exato momento em que ela morde a isca do seu infortúnio. Às vésperas de uma viagem à Rússia, a rainha frágil convoca uma reunião de emergência com os áulicos do reino, para tentar entender porque diabos seus cortesãos decidiram se entender com a oposição para apeá-la do trono. Ao fundo, o vice-rei Michel Temer anuncia aos repórteres que a soberana está “tranquila”.
Os arqueólogos talvez apresentem esta cena como um marco da derrocada da dinastia inaugurada 13 anos antes por Lula. Saída das provetas do monarca, num laboratório improvisado nos subterrâneos do palácio, a criatura exasperou-se ao notar que seu 2º reinado, com escassos seis meses de existência, definhava. Dependendo de como reagisse, não poderia viajar tranquila nem para visitar o companheiro Evo Morales, na vizinha Bolívia.
As conclusões dos arqueólogos serão reforçadas quando deitarem os olhos num vídeo gravado na véspera. Nele, o petista José Eduardo Cardozo, encarregado dos negócios da Justiça, declara em entrevista: “É de um profundo despudor democrático e de um incontido revanchismo eleitoral falar em impeachment da presidente como têm falado alguns parlamentares da oposição. O desejo de golpe, sob o manto da aparente legalidade, é algo reprovável do ponto de vista jurídico e ético.''
A entrevista de Cardozo será apresentada no futuro como um instante bizantino. Embora chefiasse a Polícia Federal, ele via mais despudor no debate democrático do que nas arcas eleitorais da rainha, contaminadas pelas doações podres do companheiro-delator Ricardo Pessoa. Mais: embora convivesse com aliados como Renan Calheiros e Eduardo Cunha, Cardozo atribuía toda a eletrificação da conjuntura às forças retrógadas do tucanato. Não percebeu que, até aquele momento, a turma do ex-monarca FHC jogava parada. É Bizânzio no seu estado mais puro, concluirão os arqueólogos.

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